Voz na penumbra

I

Vivo na noite feito o espectro

De um anjo langue. Ao longe, umbrais

Crebros nas trevas. Fulge o plectro

Das luzes astrais...

Quantas lidas, dores secretas

Cismas na noite, ó coração?

Ó pobre homem, torne-as diletas

Co´a pena na mão!

Minha cançao dobra a finados

No campanário de onde eu vim.

São Gabriel dos Desgraçados,

Oh, velai por mim!

II

Alta noite. É a vez da Tormenta

Que a galope sacode o céu.

Vem dizer-me , torva, cruenta:

- Não passas de um réu!

Porque era o meu mundo distante

- A Infância que eu levo no olhar -

Como o Paraíso de Dante,

Branca de luar...

E no aparato do meu Sonho,

Escrito à pena de cristal,

Forjei no aço frio, medonho,

A campa abismal.

III

Morrer é já não ser criança;

Anjo! - o ouvido cerrado às vaias

Que o mundo a qualquer rude lança,

Como o vento assolando as praias...

Ter nos olhos uma saudade,

E as mãos pequenas para o mundo...

Ser todaa graça e a castidade

De um coração nobre e fecundo.

Longe das torvas efialtas

Seguir p´las devesas da Sorte...

Tudo embalde! - as horas vão altas -

A vida é morte, a vida é morte!...

08-09 de abril de 2013.

QUINTINIANO

Quintiniano
Enviado por Quintiniano em 18/04/2013
Código do texto: T4247352
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