CANTIGA DE MÃE

Um dia, querida, prometo

Ainda componho um samba

Que fale de nós dois

Já tão fraquinhos pelo sinal dos tempos...

Um sambinha desafinado e franzino

Quase levitando de tanto carinho.

Aí a gente ouve ele, bem baixinho

Minha cabeça no teu colo

Pra gente se ninar...

Te mando um sorriso e um afago

Apenas com um olhar manhoso

E você entende, que na minha cabeça doida

De poeta, sem tempo pra nada

Você tem lugar garantido.

Não sou de presentes, bem sabes,

Sou mais de falar e cantar

Mas hoje, fugindo à regra

Te ofereço o barulho das águas

E o aroma das rosas.

Mesmo nas noites de farra

Com o hálito preso a cevadas e nicotinas

Te sinto presente, a me lembrar o eterno menino

Que no fundo, eu gosto de ser.

Pra Felipa dos Santos, com saudade.

19/05/1987

Pulicado no livro "Canto Mestiço" de 2004.