NÚ
Olhos de amêndoa, rosto de esconderijo
Tinha fome. Fome de afago, de afeto, de lápis de cor.
Desajeitado, envergonhado, quase desaparecido dentro de si mesmo.
Olhos de vira-lata pidão que escorre pelas ruas nuas de pedra,
tem molas cansadas de pouso sempre atabalhoado.
Viu o mundo mas nem sempre o mundo o viu.
Passou a vida em uma casa cheia de fome,
mesmo com estrelas escorregando pelo telhado.
No alto de um morro encarapitado sobre ironias,
decifrou o precipício de sua vida
exilado não do que foi um dia, mas do que poderia ter sido e,
jamais será um dia.