Rasgando poemas...

Nas mãos que rasgam
poemas antigos,
surge o sangue da saudade,
emérge a sutileza do adeus,
prevalece a descrença.

O que mais ser do que viver?

Nada podemos, nada controlamos.
Somos passageiros de vontades,
de caprichos do destino,
que sorrateiros nos roubam
a alegria do seguir.

Não é bom acordar sabendo do dia.
Fica sem graça a graça do sorrir.
O elemento homem se esvai pelos
poros cansados, doentes, sem caminhos.

O ultimo olhar inocente se perde
na estrada curta da lembrança sentida,
sofrida, de quem não foi,
de quem ainda pena a vida.

Difícil dizer palavras febris,
imorais, sentidas com gosto de
sangue na boca.

Impossível voar céus de brigadeiro,
quando os vulcões arrasam com
larvas calcinantes as terras abaixo
da linha da razão.

Dizer amor, cantar paixão,
é infinito deslumbramento
de um olhar passageiro,
firme em suas desilusões.

Duro demais é ser sobrevivente.
Penoso caminho das culpas insanas.
Te quero vida preta, sem os brancos
jalecos a te rodearem.

Palavras doces, mensagens gentis,
mais fazem aflorar a questão dos porquês,
dos pecados da ignorância,
da volta com menos um.

Chorar teu rosto confiante,
não ouso fazer.
Lembrar teu corpo miúdo,
afeito ao destino,
não pude preservar.

Por isso, rasgar velhos poemas
de alegria, já não se torna tão
penoso, tão impensável, tão doído.

Volto menos firme,
menos senhor de
minhas vontades.
Sou o que restou
de um bom amor,
de uma esperança.

Seguirei com os
pensamentos vermelhos.
Sorrindo com certeza sorrisos
amarelo-verde da revolta.

Mas serei teu guia,
pois com tua vida,
ainda pequenina,
alimentarei minha crença.