Carta da saudade

Hoje inventei mil palavras,

fiz um poema de amor,

um dicionário de cores,

um corolário de sons.

Sentei às franjas do sol,

amotinei meus olhos nus à cor do capim,

fiquei lembrando teu beijo,

tuas tardes.

Lembrei do trem que te trazia

e que aos meus poros assenta teu ar.

Lembrei do jardim;

do arrepio que envolve a flor na pele

e até dos escuros dos rusgos das rosas.

Hoje as horas teimosas se birram a passar;

mas não faz mal,

te adivinho às janelas das casas,

te devoro as encostas.

Sem você o amor faz cera aos olhos

e me cega os ouvidos.

Enfim,

dizem que quando a alma é nua e os olhos ficam tristes,

o corpo esmorece.

Deve ser o amor a sequestrar os dias

ou quem sabe a saudade que espreguiça as horas.

Na verdade, não sei.

Mas sei que de certo te espero,

e de certo, muito.

ps: Sabe, eu tava pensando,

talvez essa carta nem seja tão triste.

Tomara a saudade seja apenas um jeito de amar desatento,

a me levar as estradas,

num molho de claves ao vento.