Ai que Saudade!

Hoje o dia iniciou-se meã,

Meio nostálgico, meio nisã.

Meã de calor, de vontade,

Inundado de saudade.

Estranho sentimento de algo que ainda não tive,

Estranho pesar a pesar, apesar de encantador.

Quero sair! Vontade não tenho. Quero cantar! Mas me falta a musica. Só tenho um sentimento de lonjura.

Meu pensamento salta para fora de mim, e olha em volta,

Ele olha para trás, mas não quer voltar.

Volta! Volta! Pede meu coração. Mas qual!?

A saudade é um bicho bruto, mal incontido, à solta.

Ele voa mil metros de altura, e sobe aos sentidos,

Persegue os detalhes, perscruta meus caminhos.

Eu quero trazê-lo de volta, mas ele teima, insiste...

Vem! Sai daí. Mas qual! Nada ouve de mim. Que doidice!

A saudade é feio azougue, irrequieto garoto.

Fica aqui menino! mas nada ouve de mim.

Mexe em tudo, escavaca a miúde as memórias guardadas,

E me olha risonha, qual criança mal criada.

Não dar sossego, não fica parada, nem cala.

Mexe comigo, quer conversar; fala do que viu e ouviu.

A saudade tem uma amiga íntima, a lembrança.

E quando estão juntas nada escapa de suas façanhas.