O cravo do deserto
O beija-flor paira errante na árvore seca,
Para ele, esse infortúnio é um deserto;
tivesse um cravo qualquer numa falha oca,
e se sentiria num belo oásis, por certo...
A carência maior, faz a ventura mais cara,
O preço acentua, à proporção que se queira;
assim, é justamente a vastidão do Saara,
que valora como preciosa a mera palmeira...
Só exemplos simples; tantos dá a natureza,
Quem sabe ler percebe que, ela é brilhante;
Como de resto, é justo, uma singular beleza,
Que faz certa dama valer mais que diamante...
Não que o mundo não seja pleno de gente bela,
Mas, vira vasta miragem tudo, em face do amor;
Por que, a encantadora fonte dos olhos dela,
Desertifica o demais, agonizo sob intenso calor...
Assim, os outros jardins têm a minha descrença,
Voo sobre as flores pensando, que só uma há;
A árvore seca do início é a sua dura indiferença,
E o cravo enroscado, cada migalha que me dá...