Sede

A Terra aqui do planalto de boca aberta,

Salivava sôfrega devaneando com chuva;

verde ainda verde, mas, prostrado, torto,

nuvens alheias ancoradas em outro porto,

mas, vieram, de onde o vento faz a curva...

O pranto celeste caiu destilando seu viço,

o largo sorriso natural com dentes verdes,

até flores dormidas esfregando suas mãos;

pétalas esticando braços dentro do botão,

quiseram laborar, uma vez morta, a sede...

No consórcio com Deus eu busquei mudas,

Ele encheu o regador, eu arranhei a horta,

Fiz minha fé na loteria onde sempre ganho;

E, toda vez que a terra fértil assim arranho,

Verdes sabores entram, pela minha porta...

Mas, o cuore segue seco, tórrido, crestado,

Sequer uma nuvem de esperança, se move;

Elias ora, por u’a nuvem qual mão de mulher,

Será indício muito significativo quando vier,

Mas, meu céu segue rígido, árido, não chove...

Se, fora da vista teu anelo condensa em gotas,

Pode ser, e sendo, um dia, minha chuva vem,

Então, irei lavar esses trapos sujos de mágoas,

Teu desejo, como Cristo andando sobre águas,

Virá, no estímulo pra eu querer andar também...

Irei arranhar tua alva pele, pra ver o que nasce,

Após, regar co’a ternura desperta do meu beijo;

Fundir semente e Terra, na delícia de se plantar,

E a colheita imediata será nesse duplo desfrutar,

Num leito farto, dos frutos deliciosos do desejo...