O último adeus
-Para Maria Anízia Brandão Gomes (12-04-1946/19-01-2013)-
Sharik Letak
"A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais"(Epicuro).


Ainda hei de varrer de minha lembrança
Aquele apagar de luz dos olhos teus;
O último brilho, o último adeus,
Destino singular de uma criatura.
Mas eu hei de rir daquela figura
De foice na mão e capa escura,
E escarnecerei do sorriso dela!

Quando vir buscar minh'alma cansada
Há de encontrá-la a sorrir sentada
Em uma cadeira ali na varanda,
A tocar violão ou pintando tela.
Dedilharei, talvez, um canto pungente,
Talvez um samba, que alegra a gente,
Cantigas de amor que a saudade inventa.

De mim, eu sei, não levará mais nada,
Será só uma alma empanada,
Pois se levou minha esposa amada
Tudo levou na sacola, atada
Àquele alguém que de mim tirou.

Abrirei os braços e direi sorrindo:
Pode vir, meu bem com seu manto preto,
Já não sou nada, sou só um graveto,
Que ainda faz poema e algum soneto
E vou tocar viola lá no teu coreto!

Manhuaçu(MG), 30 de junho de 2016, às 15:00 hs