RELATOS

Na sombra do vale, há uma casinha pobre,

Há uma estrada se esticando pela serra...

E uma linda sertaneja na janela...

Há um homem a fitar, qual atalaia,

O cafezal que pelo sítio se espraia...

Já é a tarde que no val desmaia...

Lá do lado do rio onde a lampa treme,

Eu ouço um violão e a voz da Irene...

Ouço a coruja a reclamar no escuro,

E um pranto vem-me aos olhos...

Eu me seguro...

Não choro por ninguém!:

O pranto é uma saudade de um dia

Que eu ainda era criança, e não sabia

O que era ser feliz...

Não havia em mim tantos desejos,

E eu não via a poesia que hora vejo...

Não via o meu futuro!

Porém, do meu passado ainda me lembro:

As dores que eu senti, o que vim vivendo...

As horas que eu perdi...

Das minhas tardes vem em mim a fossa,

De um olhar na janela, e a minha roça...

Da estrada e do rincão...

Vêm as mágoas que deixei pelo caminho...

Só das rosas que eu vivi, alguns espinhos

Ainda dói-me ao pé, quando retorno.

Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 02/08/2007
Reeditado em 06/08/2007
Código do texto: T589460