Além das nuvens
Deitado tristemente ao pé desta figueira
Recostado na raiz que nos foi por travesseiro
Varia vezes quase um lindo dia inteiro
Ainda que esta relva nos causasse coceiras
Aqui nos divertíamos com nossas brincadeiras
E hoje só, entre os vãos de seus galhos frondosos
Contemplo as nuvens que em dias saudosos
Testemunharam nossa paixão derradeira
Olhávamos abraçados, uma nuvem passar
Aqui na figueira que estou agora mesmo
Formando tantos desenhos lindos a esmo
E tentando prever o desenho que ia se formar
Que quase sempre você conseguia acertar
E depois de muitas previsões minhas furadas
Entre carinhos, galhofas e gargalhadas
Nos retirávamos para a mata explorar
Nesta mesma mata tão linda que estou agora
Sob as nuvens que pareciam nos vigiar
Sobre o chão que parecia nos apoiar
Mas que nos eram amigos somente outrora
Porque são meus piores inimigos agora
Já que a terra não irá mais a ti me devolver
E o céu nem por um pouco me deixa te ver
Por tudo isso de dor minha alma chora
Chora de dor e de um sentimento perverso
Que me tortura a alma judiada e ressentida
Que se ainda tem alguma esperança na vida
É baseada só na promessa do Deus excelso
O qual me esforço para em servi-lo ter sucesso
A fim de na vida eterna enfim te reencontrar
Para juntos e eternamente melhor explorar
Toda a imensidão do nosso universo