Cair é arte, recair faz parte

Não tenho certeza se é noite de lua cheia, a sua preferida, mas é noite de recaída, e ela é toda minha, não queria me lembrar de você, nem das loucuras que você detinha, só de brincadeira, não é tempo de remoer torpor de passado enxuto, nem de chorar enquanto eu escuto aquela música que me lembra o seu sorriso, é, sinestesia é isso, acho que amor também. Você é a tatuagem que eu não fiz, mas que me marcou tanto por eu não fazer, que te lembro em minha pele, infeliz, te lembro no verso excelso, o primeiro verso de cada amor novo, que nunca dá certo porque não é você, o meu vício em sofrer é cíclico e vicioso, já que é noite de recaída, aproveito pra cair até o último degrau, até o beijo que teve final, até o dia mais feliz da minha vida, até hoje lembro o número do seu andar, lembro do beijo no elevador, e nem escada elevaria minha dor, que já não tem mais patamar, lembro dos seu signo e ascendentes, lembro do mapa astral maluco que você fez pra gente, lembro de conversar sobre Nietzsche e Karl, eram nossos preferidos afinal, você é minha alma gêmea musical, e a música é vida... Hoje é dia mesmo de recaída, dá uma saudade danada do que a gente não viveu, daquele presente que ia te dar mas o destino não deu, e que apodreceu na gaveta junto com meu coração... Não queria lembrar do perfume do seu irmão que você usava, dos seus dentes grandes durante aquela linda risada, me desculpa, deveria ter falado "viva a revolução" enquanto tive chance, pra te fazer sorrir bastante antes de tudo virar essa tamanha ferida, pois é, hoje é mesmo dia de recaída.