CONFIDÊNCIA
PRIMEIRA PARTE
Nos dias escurecidos pela angústia,
Quando o céu se veste de nuvens acinzentadas,
E a alegria que aflora é como se fosse a última,
A alma exilada no vale de sombras da dor
Pede a Deus com palavras embargadas
Que restitua ao céu enfermiço a luz e a cor.
Algum poder restaurador existe nisso
Porque, como que por encanto,
Refaz-se o riso
E desfaz-se o pranto.
SEGUNDA PARTE
Não temo a morte,
Que a morte é regresso,
Viagem de volta ao Eterno;
Temo, sim, a saudade forte
Dos momentos felizes (que tive)
Guardados nos arquivos do coração;
Não nego que, por dentro, me verei triste
Ao relembrar o céu de luz e de cor,
O teto azulado desses tempos passados,
Pelos quais dispenso profunda gratidão,
Muito carinho e todo o meu amor,
Pois foram tempos por demais abençoados
Que passei na fugidia, mas grata companhia,
Das pessoas que jamais me negaram alegria.
TERCEIRA PARTE
As sementes de amor que plantei
Em solos de tempos remotos
Germinaram e produziram fruto,
E a safra dos momentos ditosos
Levarei para o celeiro do futuro,
Onde por longos dias viverei.
QUARTA PARTE
Algo no instante me confidencia
Que há magia no ar,
Um sopro, uma brisa, uma ventania,
Um desejo livre e espontâneo de orar;
E assim como quem tudo agradece,
Agradeço ao Senhor pela chance
De poder endereçar-lhe esta prece
Com um aperto no coração agonizante,
E uma certeza íntima de que o melhor
Da vida está sempre ao alcance
Das mãos que procuram ao seu redor
Outras mãos para juntas seguirem adiante.