A FESTA
AUTOR: JUCKLIN CELESTINO
A FESTA
I
Lembro-me da festa.
Era como um sonho
Que me embalava.
E hoje, trinta anos depois,
Os versos que componho,
São estrelas cintilantes
De um passado rutilante
Que guardo como
Doce recordação...!
E vejo, redivivos,
Em minha memória:
Moças e rapazes bonitos
Trajados a rigor, graciosamente
Desfilando pelo salão
Ricamente adornado.
A dança.
Os pares entrelaçados...
Sorrisos à face,
Alegria contagiante,
Promessas amorosas acalentadas
Nas mentes dos jovens
Que, mesmo ali presentes,
Estavam longe,
Com o pensamento a voar,
Qual pássaro livre na amplidão,
Inebriados pelo ritmo melodioso
Da canção
Que a orquestra tocava.
II
No embalo em que estávamos,
Não demos conta,
Que já era alta madrugada.
A festa mais animada
Dava o tom
De euforia,
Casais furtivamente
Afastavam-se a fim
De trocarem beijos
E caricias recatadamente
No belíssimo jardim
Da mansão dos Patiole,
Sem que olhos abelhudos
Os pudessem ver,
E da falta de decoro, reclamar.
Tímido, eu, Juclito, espiava,
A bela que dançava,
Embalada ao som
Da música do Roberto.
Que timidez a minha--
Eu pensava.
Ela estava ali tão perto,
Ao mesmo tempo
Tão distante,
Pois o acanhamento
Que eu tinha,
Punha-me a perder.
Queria tanto, ensejava
Com a linda dançar–refletia,
Olhos deslumbrados,
Fitos na angelical criatura,
Coração em festa!
Que encanto de mulher!
Que formosura!
A mim mesmo dizia,
Voz embargada,
Presa a fala,
Cabeça rodopiante
Dando voltas no salão,
Coração palpitando intensamente:
Será que ela aceita
Comigo dançar?
Aceitará, na próxima canção?
Não sei se devo...
Não me atrevo.
Não quero importuná-la.
Ela não vai aceitar...
III
De repente, qual perversa troça
Do destino, rompeu-se em mim,
O dique da esperança:
Chorei, ao ver,
Que da diva requestada,
Aproximou-se rapaz
Elegante e vistoso,
Tirando-a pra dançar.
De ciúme, eu me atormentava,
Pensando tristemente:
Que momento desditoso
Ver juntinhos, os dois,
Sorrisos estampados
Nas faces que luziam.
Meus olhos,
Infelizes abrolhos
Em ilha deserta
Que tristeza refletiam,
Diziam,
Para ir-me embora da festa.
Aqui não é meu lugar.
Pensando assim,
Fui me retirando de mansinho...
Quando inesperadamente,
Vi surgir, como se fora um sonho,
O objeto do meu enlevo,
O anjo loiro,
Que arrebatou meu coração.
-- Lindo, não te vás.
Dá-me a honra, da próxima dança.
Soraia é meu nome.
Este com quem dançava,
Com quem animadamente conversava
É Fabricio, meu irmão –
Disse a titulo de apresentação,
E prosseguiu
Em meio a deslumbrante
Sorriso que nos lábios bailava:
Era meu desejo,
Que me tirasse pra dançar.
Como não o fizeste,
Eu mesma, tomei a mim,
A iniciativa de convidá-lo.
-- Vem, a noite agora é nossa.