DESMAME

Aceitaria sua desculpa.

Concederia-lhe perdão,

chance e absolvição;

ab-rogaria então meu ego,

relevando cada noite maltrapilha

que aqui me sentenciastes.

Teria pena se chorasses

e teimasses muitas vezes

que não era a sua intenção

penalizar-me de tal guisa,

de tal sorte.

Entenderia que somente

não pensou seu coração

ao atolar-me ("sem querer")

nessa agonia, nesse breu,

nessa desordem.

Nas atitudes, no declínio do moral

e do imoral - vicissitudes.

Me engastaria nos teus braços

caso não escorregasse

no dilúvio entornado no soalho -

o seu pranto envergonhado,

estapafúrdio, arrependido

o suficiente para nos asfixiarmos,

um e outro num marasmo

encharcado, embebido… empapado.

Balbuciaria de bom moço

tais rabiscos de canções de amor

e fogo

que ao léu desembestaram,

naufragaram

nesse imenso mar de drama

e nessa similitude desigual -

mas parecida - quase sempre

vendaval!

Eu ouviria e cantaria e ouviria

novamente e cantaria...

Auscultaria atentamente a tua boca,

cada olvido gesto brando

e de agrado que aduziste

ser apenas ato ímpar;

não sentença; não repúdio:

um obsceno ato infame de desonra

e de desmame de tua parte para a minha.

(tu que és parte de mim).

Da minha língua derrotada

e conivente

ouvirias "te perdôo" num formato

incongruente, reticente, enfim, rasteiro

e reprovado em amor próprio, mas, por hora,

valeria muito bem por remissão (que é prima

da saudade da loucura e do desejo).

Anularia-me, sendo mesquinho comigo,

só bastava que entoasses, de mansinho

(bem mansinho), um oportuno "me perdoa".

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 24/09/2017
Reeditado em 26/09/2017
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