DESMAME
Aceitaria sua desculpa.
Concederia-lhe perdão,
chance e absolvição;
ab-rogaria então meu ego,
relevando cada noite maltrapilha
que aqui me sentenciastes.
Teria pena se chorasses
e teimasses muitas vezes
que não era a sua intenção
penalizar-me de tal guisa,
de tal sorte.
Entenderia que somente
não pensou seu coração
ao atolar-me ("sem querer")
nessa agonia, nesse breu,
nessa desordem.
Nas atitudes, no declínio do moral
e do imoral - vicissitudes.
Me engastaria nos teus braços
caso não escorregasse
no dilúvio entornado no soalho -
o seu pranto envergonhado,
estapafúrdio, arrependido
o suficiente para nos asfixiarmos,
um e outro num marasmo
encharcado, embebido… empapado.
Balbuciaria de bom moço
tais rabiscos de canções de amor
e fogo
que ao léu desembestaram,
naufragaram
nesse imenso mar de drama
e nessa similitude desigual -
mas parecida - quase sempre
vendaval!
Eu ouviria e cantaria e ouviria
novamente e cantaria...
Auscultaria atentamente a tua boca,
cada olvido gesto brando
e de agrado que aduziste
ser apenas ato ímpar;
não sentença; não repúdio:
um obsceno ato infame de desonra
e de desmame de tua parte para a minha.
(tu que és parte de mim).
Da minha língua derrotada
e conivente
ouvirias "te perdôo" num formato
incongruente, reticente, enfim, rasteiro
e reprovado em amor próprio, mas, por hora,
valeria muito bem por remissão (que é prima
da saudade da loucura e do desejo).
Anularia-me, sendo mesquinho comigo,
só bastava que entoasses, de mansinho
(bem mansinho), um oportuno "me perdoa".