CARUTAPERA

Quem me dera, outra vez Carutapera...

A vontade de crescer e sair mundo a fora...

Ter uma jangada de vela azul...

Atravessar o oceano...

O incontrolável desejo de voar...

e ser invisível

Quem me dera, outra vez Carutapera...

Carregar tijolo em romaria,

ajudar missa aos domingos,

cantar ladainhas em latim,

Ir as aulas de catecismo...

Os cotidianos banhos na maré

e nos igarapés

As frutas, os quintais, as comédias, os circos ....

Quem me dera, outra vez Carutapera...

a reza p’ro anjo da guarda

com medo do trovão

e das visagens,

os banhos de chuva

na cascata das biqueiras...

Quem me dera, outra vez Carutapera...

Ter aulas no grupo escolar,

desfilar sete de setembro,

correr livre na rua,

armar arapuca,

andar em perna de pau,

empinar papagaio,

jogar pião e futebol...

Quem me dera, outra vez Carutapera...

Ser de novo menino

aprender a fazer mosaico

e toda tarde quebrar pedra

pra igreja de São Sebastião

Os leilões, os sermões, as procissões, as peregrinações...

Quem me dera,

pois, além dessas lembranças,

não tenho de Carutapera

sequer um retrato na parede.

Belém, 11 de agosto de 2.001.

Carutapera é uma cidade no nordeste do Maranhão onde passei parte da minha infância (de 6 a 11 anos).