A Musa Do Mar
(Lembranças de uma tarde em Jericoacoara)
Sharik Letak
 
 
A gaivota predadora corta o espaço,
Fatinhando os sonhos meus, e os pedaços
Se espalham pelo mar enfurecido.
No mar, o corpo dela é um despacho,
Que o mar, amante avaro, num abraço
Envolve num murmúrio enternecido.

Eu sou só pingo d’água espirrado
Da espuma pelo mar já descartado,
Fiapos de um sonho que gorou!
Seu corpo é um golfinho descuidado,
E eu mais um banhista fascinado
Cujo rosto a irônica onda salpicou!

Emerge, ela, agora. O mar se acalma.
Será que ela do mar sugou a alma,
Amante sacudido por paixão?
As gotas em seu corpo são diamantes
Que escorrem num bailado delirante
E preguiçosamente beijam o chão!

Vem vindo. Os seus pés dançam na areia.
São o requebro da aranha em sua teia,
Que avança para a caça já sedada.
Já sinto a doce droga em minhas veias.
Que importa se a ilusão é coisa feia,
Se a alma tenho eu já cativada?

Manhuaçu(MG), 01 de julho de 2.018, às 01:20 hs.