Partida

Partida

De paixão inominável me vesti

Interminável o tempo de outrora

Mostra-me, História, a hora em que a perdi

Pra que eu possa, agora, resgatá-la

Francamente, entendo neste instante

Que errei contigo enquanto ausente

Omitindo o amor que, enfim, sentia

Demonstrando estar tão descontente

Quero te dizer abertamente

Que, se o quiseres, podes tudo

Se não me quiseres quedo mudo

Mesmo me sentindo impotente

Apenas diga a mim que vais embora

Mas que, se pudesses, ficarias

Que, enfim, foi bom o que vivemos

Que me lembrarás a vida inteira

Na partida, sempre inadiável

Quisera rir assaz alegremente

Despedir a dor que não pedi

Que me invade involuntariamente

Sem querer chorar, já vou chorando

Sem querer deixar, já vais partindo

Sem poder conteres, estás rindo

O sorriso de quem muda a vida

O choro é privilégio de quem fica

Pois quem parte como que renasce

E quem deixa passa como a brisa

Um frescor que é bom, mas já se esquece

Só não sente a dor quem vai embora

Tantas foram as vezes que parti

Tantos os amores que deixei

Resta-me partir, então, de ti

Então, contive o pranto prontamente

Congelando um riso no meu rosto

Mas não vejo a hora de voltares

Pronto a suplicar que não me deixes

Que a tristeza fria, a que não chora

Aquela que se crê estar ausente

Possa redimir-me heroicamente

Dissipando a dor que só piora

O abandono é dor que dói mais fundo

Fere e nos perfura internamente

É dor que faz chorar, mas que persiste

O abandono rói eternamente

(Djalma Silveira)