DOCEMENTE (P/ Giullia)

Peregrinei. Vim de longe.

Andei tonto até aqui.

Agora no peito ocorre

Essa vontade de partir.

E quando digo 'partir',

Quero outro lado da ponte;

Outra estrada construir,

Qual pedra que faz o monte (?).

Desconhecer novos ares,

Dessofrer o que sofri.

Desalugar os lugares,

Desencantar, desistir

De ansiar retornamento;

Crendo que um dia a verei,

Como que, do firmamento,

Descendo mais uma vez

E sussurrando "querido,

não tenhas raiva de mim!

O tempo não tem sentidos,

Inícios, meios ou fins!

Não quis te deixar aflito,

Nem zombar do teu querer;

Voei por vastos desertos

Que precisei conhecer,

Antes de trazer-lhe o sumo;

A melhor parte, o superno:

Minhas mais doces pitangas

E trocadilhos eternos"

Misantrópico, eu acordo

Num sopro de solidão;

Solitário, sobretudo,

Do toque da tua mão;

Minha postura acordada,

Insatisfeita e ingrata,

Aponta a luz pro vazio:

E a tua ausência, resgata.

e maltrata

e maltrata

e maltrata

e maltrata...

E passa por mim um rio!

Arranca-me a tua corrente,

Me arrastando terna e vil!

Me afogando lentamente...

Me matando... me matando...

Me matando docemente.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 27/02/2019
Reeditado em 28/02/2019
Código do texto: T6585150
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