SAUDADE
De vez em quando ela chega sem avisar
Teimosa lágrima insiste querer escapulir
Abro a janela, deixo a saudade entrar
Fecho a porteira pra não deixar ela partir
O tempo passava rotineiro e diário
Tudo tinha instante certo e lugar
O Dia vinha exatamente no horário
Logo depois da noite escura se acabar
Lá na fazenda nunca ficava solitário
Madrugada despertava-me o sabiá
Olhar desconfiado, replicava o canário
Não havia gaiolas, mas estavam sempre lá
Era sem asfalto a velha estradinha
Caminho da casa grande até o ribeirão
No trajeto via ninhada da galinha
Flores nativas coloridas pelo chão
Cachorro dormia na beira da soleira
No pasto uns boizinhos modorrentos
Mato e céu pareciam fazer fronteira
As notícias voavam aos quatro ventos
Nenhum barulho dos carros da cidade
Paredes de barro, dispensavam cimento
Voltar pra lá mostra-me a realidade
Desconhecia tristeza e sofrimento
Na foto da parede vejo o passado fugir
O futuro teve muita pressa em chegar
Fecho a janela, chegou a hora de dormir
No sonho abro a porteira, voltei ao meu lugar
De vez em quando ela chega sem avisar
Teimosa lágrima insiste querer escapulir
Abro a janela, deixo a saudade entrar
Fecho a porteira pra não deixar ela partir