Fiéis Confidentes

Lembro agora o que eu sentia

Quando, olhando um céu estrelado

Eu deixava falar o coração,

Quando o amor era a inspiração

Que eu tranformaa em poesia.

Quantas noites assim adormecia,

Vendo o pedaço do céu que cabia

Na singela moldura da janela!

A lua, a cada noite mais bela,

Cercada de estrelas cintilantes,

Quais os mais delicados diamantes

A adornar seu manto de rainha,

Num céu bordado com agulha e linha,

Sobre tecido luxuoso e fino,

Pelas mãos de anjos, imagino.

Quantas noites fiquei a divagar

Sob a luz prateada do luar!

Hoje relembro as noites passadas

E as silenciosas madrugadas,

Quando lua e estrelas, somente,

Eram as minhas fiéis confidentes.

Quantos segredos eu lhes confiei!

Nao posso reaver, por mais que tente,

As horas que assim desperdicei;

Nada pode mudar o acontecido.

Agora, tudo é muito diferente...

O coração, no peito emudecido,

As estrelas, todas tão silentes!