Na idade da inocência
 
A uma amiguinha
 da minha doce infância
com a mais pura saudade.
 
O canto de um bem-te-vi no jardim,
por um mistério qualquer das lembranças,
fez reascender a saudade em mim
daquele nosso tempo de crianças.
 
Ao me ver fazer xixi na plantinha,
você levantou o seu vestidinho
e então me falou, descendo a calcinha:
- João, veja, não tenho passarinho.
 
- Que menina bobinha você é,
só nós meninos temos torneirinha,
para poder fazer xixi em pé;
as meninas só fazem sentadinhas.
 
Bem depois, você faceira me disse:
- Tenho seios, vou usar sutiã;
pelinhos também, adeus meninice!
Hoje, botão; serei flor amanhã...
 
Respondi com total efervescência:
- Tenho pelinhos, meu pipi cresceu.
Quer ver? - Perguntei num fio de inocência.
- Credo, João! Que bicho te mordeu?
 
Vi no seu rostinho o rubor da aurora
e então percebi, com melancolia,
que a nossa infância já tinha ido embora,
assim como também você iria
um dia...
 
 
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N. do A. – Na ilustração, Contrariedade de Neiva Passuelo (artista plástica gaúcha de Erechim, radicada em Curitiba - PR).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 30/06/2021
Reeditado em 30/06/2021
Código do texto: T7289813
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