CACOS

É tão viva esta lembrança

Dos heróis de voz armados,

Professando um não sonoro

E brandindo o violão.

Nós sentávamos nos bares,

Encantados com seu canto,

Discutindo os rumos pátrios,

Encharcados de bebida

E a sonhar um tempo novo

De progresso e de justiça.

Nós falávamos de música,

De poetas, prosadores,

Dos heróis de tempos outros,

Das mulheres e do mundo,

De questões inquietantes,

E nos víamos nos rostos

Certas luzes de esperança.

Hoje eu sei que o novo tempo

Nunca vimos ou veremos.

Todos nós nos dispersamos,

E os rebeldes de hoje em dia

Não têm causa ou cabimento.

Mesmo os bares já não pensam,

E eu fiquei por longos anos

A tentar juntar debalde

Cacos ínfimos, dispersos

De um tempo irretomável.

Barão da Mata
Enviado por Barão da Mata em 10/04/2023
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