O cacto e a Begônia

Da terra do meu peito

se abra um cacto

Espinhoso

Sofrigélido

Que me morde com meus

mesmos dentes

E que dessa mesma terra

Também nasçam begônias bem bonitas

Um rasga e parte na espinhação

A outra, a begônia, floresce e existe

A cinza de um

é semente do outro

Num "tom do pastor"

Num nunca-acabar

Não se conversam

Nem coexistem

O cacto não entende

porque tem que ferir pra nascer,

A begônia, coitada, quer ser fúria,

quer usar as pétalas pra enforcar.

O cacto por sua vez, queria tanto,

mas tanto

menos aridez,

queria um abraço

Mas em uma coisa a begônia e o cacto são um:

Compartilham a dor universal

Seja no choro,

na saudade,

Ou no soco na parede do tórax.

A saudade esgana

E mata de sede

Ou se chega perto

E afoga-lágrima

Não se corre de saudade

Pra onde for ela vai

Não se morre de saudade

Você enterra ela trás

A begônia e o cacto sabem disso

E querem simples:

Sonham em engravidar o tempo,

em mal pensar o futuro,

e ele, obediente,

Erguer-se