Tão longe (Os tempos de Minas Gerais)

Ventos e vozes

Que voam pelas serras na primeira luz da manhã

Não nos trazem notícias

Não nos trazem novos olhos

O rio que sobe as cidades

Esqueceu de nós

O céu que nos trazia paz

Esqueceu da nossa memória

Em outro lugar

Tão longe de casa

Uma criança chora

Com saudades dos campos daqueles tempos

Seus olhos refletem fazendas, contos e cidades.

Cachoeiras de desejos, águas de um destino separado.

Em memórias turvas de uma paz passada

Debaixo da ponte onde um dia passou o trem

Faz tanto tempo desde aqueles dias quentes

Dedilho na viola por entre as matas verdes

Uma canção de amor perdido

E me lembro dos teus sonhos

As árvores tão tristes ainda recordam

Dos tempos que subíamos descalços

E alcançávamos um céu de desejos

Ainda me lembro das promessas falhas

Daquilo tudo que um dia juramos fazer sobre essa terra

O rosa das flores se combina ao chorar das nuvens

E o arco-íris de magoadas cores me faz chorar

Uma velha lembrança, um olhar que nunca mais voltei a ver.

Onde está aquela criança?

Que corria pelos campos naqueles tempos bons

Está tão longe. E lá tão distante ainda canta

Nossas canções de amor e pranto

A roça tão sofrida já esqueceu

Os cavalos nos pastoreios já não são mais os mesmos

Daquele tempo em que o próprio tempo sobrava farto

E não havia nada além de conversas mansas

E olhares que refletiam alegres o cintilar do lampião

Ah saudades daqueles dias de caboclos e causos

Antes de você deixar a terra da nossa velha Minas Gerais

Pra se aventurar mundo afora, ir-se embora pra bem longe.

Os olhos daquela criança ainda choram lembranças em algum lugar

Tão longe, tão longe do lar de outrora.

Meu último desejo voa pelas serranias vazias

No amanhecer de malas feitas parte numa caminhada embora

Como quando você se foi daqui naqueles memoráveis dias