Noite Schopenhauriana

Cai, noite, profunda e triste,

Cai, noite, medonho manto

Que sobre toda coisa que existe

Espalha sua dor e o seu pranto.

Avisto à distância, no infinito

As estrelas em fulgor cintilante

Enquanto eu deste abismo as fito

Entre pasmo de dor e asco revoltante.

Ora movo os passos à imensidade

Que habita no trabalho e no esforço,

Ora sucumbo à fria insanidade.

De que serve enfim, a vida escura?

Se velho acho o coração tão moço

E tropeçando avanço na amargura?

Não sei se solto a alma já tão gasta

No tétrico idílio de uma morte dura,

Ou se morro buscando o teu remédio,

Poção inútil de uma dor sem cura

Levanta o sol, em flamas ele arde,

Inunda o espaço, o enche de alegria,

Quis eu sugar tais vibrações, não pude,

Tão fraco e gasto, nesta noite fria.

1993