Sombras

Estais novamente aí, fagueiras sombras

Enchendo o espaço com o vosso vazio?

Ou és tu, corrompida visão, que assombras

De tola e soturna embriaguês e cio?

Perdidas estais da vossa morada

Nas terras do hades submerso

Ou vens deixar esta vida apavorada

Com vosso gesto solene ou travesso?

Quem pode o vosso nada julgar

Livre de paixões e de aprêço

Se todos sentimos a vós ameaçar

O nosso fim ou o nosso começo?

Estais aí novamente, sombras fagueiras

Falsas talvez, verdade ou mito?

Não sois as primeiras e nem derradeiras

Que às outras se somam no infinito.

Dos mundos de fora e da interioridade

Vossa múltipla face nos censura

A palavra que sai de novidade

E nenhuma expressão se nos afigura!

Tremendo espanto em pouca verdade,

Estais sempre e sempre aí, sombras felinas

Até nas horas de maior claridade!

Negras no efeito, e no final... divinas!

1993