Misantropo (Retrato da Aversão Humana)

Hoje despertei com uma raiva que não faz parte de mim

E, no entanto me sinto seu mais íntimo amigo.

A morte me olha com um sorriso satisfeito

Todos os dentes da podridão humana se revelam

E eu os repugno com todas as forças

Observo as cidades como cânceres

Observo os humanos como algo irreal

Seres indignos do mundo que lhes é dado

Seres perdidos em mundos de política inútil

Eu observo as nuvens escuras que não passam

Os prédios fétidos

Os rostos cansados

O negro cancro urbano não parte da rua

E sim dos corações corrompidos dos monstros

Os monstros que matam

Que traem

Que incendeiam sonhos

E passam por cima dos outros

São todos vermes

Em busca de alguém para parasitar

Nos seus carros polidos

Suas casas hermeticamente arrumadas

Vê-se o reflexo do interior humano

A decomposição cadavérica dos corações

A falta absoluta de alma

São apenas máquinas

Objetos da ignorância e do descuido

Frutos da manipulação dos espertos

Hoje é um daqueles dias

Que a natureza parece ser a única coisa correta

E o ódio toma conta dos olhos do lobo

Enquanto observo matas queimarem

Para dar espaço para mais bestas humanas

O inferno é aqui

Será que ninguém percebe?

Vivemos na mesma imundice de sempre

Mudam os séculos

Mudam os políticos

Muda a religião

Mas os humanos não mudam

Se realmente houvesse um bom Deus no céu

Esse planeta não seria sequer entregue a nós

Hoje a lua brilha forte

Os olhos em sangue logo choram lágrimas de lamento

Os olhos de alguém sozinho na escuridão humana