Os olhos do lobo

Nessa noite de mágoa na tundra

A lua soa seu último canto de uivos

E o vento cria novas ilusões por entre a floresta de gelo

Os meus olhos ardem em chamas de sombras

E se turvam ao dominar do lobo em desejos

Agora meus olhos enxergam o mundo sem cores

O mundo sem sentimentos

Carregados de instintos e dores

Nessa noite de paz meu corpo descansa

Sob o controle do lobo que corre

Deixo-me levar nos sonhos mais doces

Mal sinto a tristeza, os arranhões, as marcas.

Os olhos do lobo se incendeiam em uma paixão

Um sentimento novo e diferente

Feito pelo desejo de quem realmente sente

A liberdade das patas que correm

Pela serenidade dos momentos que se vão

Meus olhos enxergam o céu

A luz do luar e das estrelas que giram

Em um circulo em volta do mundo

A aurora boreal vem me indicar a estrada do norte

O caminho das árvores na trilha verde do céu

É uma noite tão bela acima do gelo

No começo do triste inverno na tundra

Logo o céu vai desaparecer em seu próprio giro

E o espaço vai se unir ao solo entre as nuvens

Na imensidão branca da estepe dos sonhos

Aonde o mar se une com a terra para refletir o céu

A sensação de leveza é única

A sensação que todos lutamos por ter

A união com o selvagem é inevitável

A sensação da qual todos os humanos fogem em vão

O sentido da vida que busco

Através das noites em claro que passo

Perdido em delírios de um lobo que foge

Um coração lupino que uiva sem poder escapar

Preso cruelmente nas correntes da rotina

Amordaçado na desgraça constante dos dias

Os olhos do lobo se apagam no amanhecer

Mas a luz não se esvai totalmente

Ainda há no fundo da escuridão dos olhos

Um brilho pelo qual se deve lutar

Um reflexo da aurora boreal sobre o lobo que corre

Em busca de um simples olhar da liberdade

De um simples desejo impossível

Tão simples, e tão distante