Noturno II.
Ah musa tristonha por que
Beijas o lábio do abismo?
Nos oceanos da mágoa
Pesco a penúria.
Agarro ao dançar a cintura
Do caos. A musica que os lábios revelam.
Amo o que não quero
E sinto o que não posso.
Enquanto calo a voz muda,
O idioma dos sentimentos.
A desoras, toco a trombeta do silêncio
Que em vão desafina.
A morfina das horas me embriaga
E o ardor do fogo me finge.
O breu do teu beijo enegrece
A ausência. Escuridão...
As lágrimas são ferrugem
No ferro do rosto.
As máquinas da carne
Trabalham a necessidade de luz.
Com a libertinagem dos suspiros
Teu corpo flameja de flores.
Mumificado, a morte mete
Estrelas em meu chapéu.