Noturno II.

Ah musa tristonha por que

Beijas o lábio do abismo?

Nos oceanos da mágoa

Pesco a penúria.

Agarro ao dançar a cintura

Do caos. A musica que os lábios revelam.

Amo o que não quero

E sinto o que não posso.

Enquanto calo a voz muda,

O idioma dos sentimentos.

A desoras, toco a trombeta do silêncio

Que em vão desafina.

A morfina das horas me embriaga

E o ardor do fogo me finge.

O breu do teu beijo enegrece

A ausência. Escuridão...

As lágrimas são ferrugem

No ferro do rosto.

As máquinas da carne

Trabalham a necessidade de luz.

Com a libertinagem dos suspiros

Teu corpo flameja de flores.

Mumificado, a morte mete

Estrelas em meu chapéu.

Luis Felipe Saratt
Enviado por Luis Felipe Saratt em 11/10/2008
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