Cinzas de carnaval

Cinzas de carnaval

Recolhi a noite presa entre os lençóis

Tentando, em vão, estancar

a incontinência das lágrimas.

Beijei teu lábio, preso ao copo,

onde a água preservou teu gosto.

Nunca senti tamanho frio

como o que me trouxe a brisa

naquela manhã de quarta-feira.

Todo o quarto rescindia a cinzas...

A alegria, de tão grande,

se consumira inteiramente?!

Nada. Nada restara da noite passada.

Somente teu rastro até a porta

e o vestido branco que rasgaste.

Fechei os olhos a buscar-te em sonho,

mas tua existência, de tão breve,

não deixou sequer lembrança.

Somente cinzas, que carrega a brisa,

quando se incinera o tempo.

Somente cinzas, sem nenhum pedaço.

Sem um traço de morte, ou de vida.

Cinzas de quando tudo para

por motivo tão banal.

Daquilo que não dá notícia:

Cinzas de jornal.

Cinzas do lixo dos dias.

Cinzas de carnaval

(Djalma Silveira)