Velho Vagabundo

Nas praias as ondas na geleira

Numa cadeira um velho mora,

Em beira mar, balança em beira,

Beirando o mar, e inda embora,

Ninguém o vê ninguém se importa,

O vento que o corta lhe conforta,

E pesca restos de lembranças,

Que tem se tem sua esperança.

Nas praias as ondas na geleira

Definha morto e ninguém hora,

A vista o fora tão certeira,

Garoa te vela e também chora,

Em meio aos sóis e seus planetas,

Pega poeira de seu cometa,

Lá no této de seu quarto,

Tem universos n’outro lado.

Nas praias as ondas na geleira

Estrelas rondam aleatórias

O velho cego, e da poeira

Em sua história que ignora.

O velho guarda inda que arda,

De seu passado a sua farda,

E os fatos tantos retratos,

Se esquecem estão moldurados!

Nas praias as ondas na geleira

Alguma estrela longe estoura,

E o velho espera em sua cadeira,

A réstia o sonho, tanto implora,

Ele só pesca e pesca e encontra,

Uma maré que lhe vai contra,

Então recua mas não descansa.

E no infinito ele avança!

Congela fósseis na cabeça,

Perdido está, nesse seu mundo,

Talvez um dia amanheça,

Para este velho, vagabundo!

Shadowcraft
Enviado por Shadowcraft em 03/07/2006
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