Velho Vagabundo
Nas praias as ondas na geleira
Numa cadeira um velho mora,
Em beira mar, balança em beira,
Beirando o mar, e inda embora,
Ninguém o vê ninguém se importa,
O vento que o corta lhe conforta,
E pesca restos de lembranças,
Que tem se tem sua esperança.
Nas praias as ondas na geleira
Definha morto e ninguém hora,
A vista o fora tão certeira,
Garoa te vela e também chora,
Em meio aos sóis e seus planetas,
Pega poeira de seu cometa,
Lá no této de seu quarto,
Tem universos n’outro lado.
Nas praias as ondas na geleira
Estrelas rondam aleatórias
O velho cego, e da poeira
Em sua história que ignora.
O velho guarda inda que arda,
De seu passado a sua farda,
E os fatos tantos retratos,
Se esquecem estão moldurados!
Nas praias as ondas na geleira
Alguma estrela longe estoura,
E o velho espera em sua cadeira,
A réstia o sonho, tanto implora,
Ele só pesca e pesca e encontra,
Uma maré que lhe vai contra,
Então recua mas não descansa.
E no infinito ele avança!
Congela fósseis na cabeça,
Perdido está, nesse seu mundo,
Talvez um dia amanheça,
Para este velho, vagabundo!