Despedida

É como numa separação

Na entrada um oi mudo

com lábios cerrados

que se recusam a abrir-se

Então a maior distância é entre os cômodos,

cada um no seu espaço, enquanto fingem

que não se falam que não se conhecem.

E você pega cada objeto como se furtasse,

roubasse o que é seu, tomasse as lembranças.

Enquanto guarda tudo que compartilhou

Dividi seu tempo entre o pensamento

A última arrumação da casa

A última olhada do quarto

A última despedida sem palavras

Mesmo sabendo que tudo aquilo

Te corta fazendo-o sangrar em lágrimas

Não se permite derramar nenhuma delas.

E tudo vai se amontoando na mala,

cabendo tudo aquilo em tão pouco espaço

indo de contra ao que mal cabe em nós.

Um tempo que se arrasta quase morto

A mente parece te culpar pelo ocorrido

E você vai memorizando tudo

O último olhar, o último cheiro

O último sorriso que nessa cena não se fez.

Ao fim dessa tortura, tentamos

quase que sem sucesso, ser ao menos sociáveis

Trocam-se exatamente três palavras

Querendo inundar-se de argumentos

E você se vai, engasgando a despedida,

envergonhando toda e qualquer atitude,

fechando a porta, deixando o outro pra trás

e nada mais resta, apenas a despedida.

Tudo está acabado, e em nós?

Aquilo que não dissemos, que não mostramos.

Engolindo a seco o amargo de ir embora

e a dor de saber que não há mais volta.

Gabriel Moreno
Enviado por Gabriel Moreno em 21/10/2009
Código do texto: T1879924
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