PRENÚNCIO

Cheia de ninguém

A rua estaria.

Folhas de vento sopravam

Varrendo asas de insetos

Sobre os paralelepípedos;

Aos degraus e batentes de portas

Concorriam e sibilavam.

As cores das janelas estavam fechadas

Ao barro da poeira migrante.

Dos pardais que ainda equilibravam-se no ar

Às andorinhas amotinadas num fio da companhia elétrica,

Lições eram extraídas

Para redações de meninos.

Nas salas, as fotografias de azul emolduradas

Observavam seus netos, com olhar circunspecto,

Como a oferecer um trocado para as bonecas de cerâmica,

Para a coleção de carrinhos de metal...

Promessas ainda presentes

De um carinho ausente.

Um rádio a pilha marcava as horas.

Um relógio a corda cantava o tic-tac.

A gaveta da cômoda abriu-se,

Dela saíram cartas abertas,

Seladas com entrelinhas ditosas.

Achou-se tesoura, lâmpada, botão, irmão

De quando dobrara-se a fralda do tempo.

Enclausuradas imagens

Do interior de pessoas

Avessas à emoção,

Vieram junto ao prenúncio

De se semear.

Não soara o trovão.

- Depressão.

Ameaça de chuva,

- Que pena!

Apenas.

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 05/05/2010
Código do texto: T2238532
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