FILHOS DO LIXO

Catam migalhas, sobras asquerosas,

detritos que não servem e jogamos fóra,

e eles em submissão humilhante catam,

por serem alimentos para matar suas fomes,

mesmo que disputem com urubús os restos.

A mãe que jamais deveria ser humilhada,

acende a fogueirinha e fritar a carne podre,

tirando as arestas que estão enegrecidas,

e as sobras que já desprezamos tempera,

para ao menos ter um sabor e poder digerir.

O repasto é feito ao sabor do mau cheiro,

moscas atrevidas nem respeitam os seus filhos,

numa volúpia como que querendo participar,

do banquete que nem cães se atrevem a comer,

tão repugnantes são os alimentos encontrados.

Saciados da fome que rondava seus filhinhos,

procura no lixo o sustento para míseros trocados,

restos dos restos que o homem já se livrou,

incômodas presenças que tomavam espaços,

mas para a catadora são preciosas relíquias.

Lixo reciclado com inúmeras serventias,

vai jogando no carrinho o que desprezamos,

e os filhinhos pequenos também se envolvem,

ajudando a mãe para aliviar seu cansaço,

pois terá que empurrar até chegar no destino.

De repente das tristezas surge uma alegria,

a garota pequena encontra uma boneca de pano,

já corroída mas ainda apresentando meiguices,

e que ela feliz aperta num abraço tão meigo,

parecendo até receber um sorriso em troca.

18-05-2010