CAMPAS PERDIDAS

Composto em 30/04/2010 por ocasião de um sepultamento em um cemitério abandonado, num pequeno arraial ao norte de Minas, por onde eu peregrinava naquele dia - LUZIRMIL

UM CAMPANÁRIO DE LÁPIDES

Na vida de um peregrino, muitas estradas se aviam,
Tem aquelas que margeiam / e aquelas que se desviam,
Os sentimentos são rastros / dos passos que se destrilham!

No vagar do pensamento / pela estrada a correr
Ele vai tendo a idéia / de que um dia vai morrer
E ao final de sua vida / numa campa vai descer,

Estaria ela perdida, entre abrolhos, ou flores?
Naqueles foram esquecidas, e nessas houve favores,
Dos que vivos estiverem, cuidando de seus amores!

Das coisas desencontradas / sem encaixes a questionar,
É mesmo a confiança, que o homem tenta encontrar,
De que de dentro de um túmulo / haverá de retornar!

Jesus Cristo, quando veio / a humanidade instruir
Reiterou que a sepultura / só iria subsistir,
Num tempo antes do fim / do sol deixar de luzir!

Os mortos, pois, não merecem / um desprezo irreverente,
Enquanto o sol brilhar / devemos ser previdentes,
Ter cuidado com o jardim, onde eles estão latentes!

Ao ver um campanário / cheio de mato e espinhos
Pensamos que há desprezo / e dos vivos o descarinho,
E em cada sepultura, desapego e desalinho!

As flores ali fenecem, com seus benquistos perfumes
A terra desaparece / sob o mato em cerumes,
Onde as cobras serpenteiam, como se fossem cardumes!

Um campanário perdido / não está na torre alta,
Porém em um campo santo, onde a vida fica em falta,
Cada campa representa, um teatro sem ribalta!

O mundo é tenebroso, onde as lápides se embaralham!
Formando um campanário, que os sentimentos espalham,
Cada uma representa / a solidão que embalam!


Luzirmil  I. Coimbra  "O Peregrino"