Canção para a Lua

Canção para a Lua

Na solidão

no inverno

Na noite

A Lua me saúda do alto

Nota a lágrima

Chora comigo

Mas não te encontra

Amiga Lua

Se moves a água do mar

Por que não a trazes p´ra mim

Ou me leva p´ra ti

Abraça-me

Como o fazes com as águas

Dá-me da tua força

Da tua luz

Mostra pra ela a morada do amor

Amiga Lua

Posso ver a face da ama em teu branco

Conduz-me à tua face negra

E lá me abandona

Até que esqueça de tudo

Até lá,

Me tira do mundo

Não suporto mais

Sem amor, seco

A paixão me consome

Se olhares meus olhos

Hás de te perder neles

Estão vazios, amiga

Minha vida, levaram

Perdeu-se na noite

Nos bosques frios

Perdeu a morada

No peito da amada

Fria amiga

Como estás linda!

Como nunca, bela!

Por que sorris?!

Não vês, por acaso

Aquela por quem choro?

Não! Não me diga

Deixa-me só

Só nós dois, Amiga!

Nós, mais ninguém

É teu meu amor

E teus os meus versos

Só para ti, os meus olhos

Só para ti

Não me abandonas

Nem me recusas

Não me trais

Ao adorar-te

Essa canção

É para ti, Rainha das Noites

Quando levares as águas

Leva-me contigo!

Leva-me da amaldiçoada terra

A flutuar na mansidão sem fim

Embalado nas ondas

Quero te admirar longamente

Oh, Mar me proteja

Dos ruídos do mundo

Cantem comigo

Amigas Sereias

Não, não chorem

Basta o meu sal

Basta a minha dor

Aves negras do céu

Levem minha carne

Hei de unir-me

Às naves perdidas

Meu espírito

Há de voar consigo

Não mais cantarei

A ouvidos surdos

Nem abrirei meu peito

À crueldade humana

Os abutres melhor m´entendem

São mais suaves que minha amada

Abram o meu peito

Levem a dor embora

Abram a cabeça

Levem as lembranças

Amiga Lua

Conduza meu espírito

Com a sua Luz

Quero ver a aurora

E finalmente dormir

Sem sofrer por amor

Nos uivos noturnos

Arranca-me das sombras

Onde não há caminhos

Meus pés cansaram

Do caminhar sem rumo

Estou só novamente

E sou só seu, Amiga

Como antes, para sempre

Aceita o meu canto

Tens sempre a mesma face

Perdão por te trair

O amor, esse feitiço

Me arrastou às trevas

E só trouxe dor

Que a carne nunca experimentou

Ajuda-me, Amiga

Arranca o feitiço, se podes

Estou nu, nada mais tenho

Não há mais beleza

Somente um sonho impossível

Me assalta o espírito

Minha carne, tão fria

Só aquece na dela

Meus olhos, sem cor

Só brilham para ela

Meu corpo

Só vibra no dela

Que falta

Sua pele

Que falta!

Tão longe!

Por isso me escondo

No abismo da noite

Me guarda, Amiga

Na tua face escura

Longe de tudo

Até esquecê-la

Se for impossível

Me lança no espaço

Sem medo, sem laço

Me torna em estrela

(Djalma Silveira)