ÓrFãOs De Si

Eu morro

Nos traços

E desgarro

Em silêncio

O meu querer,

Agora.

Eu contemplo

A lona azul

Que minha cabeça

Recobre.

Não chove

Onde os ventos

Escasseiam-se

- negra é a aurora

Minha.

Eu queimo

A última chama

E aborto

Os novos desejos

Os novos sonhos

Os amores contidos

Sou a fúria

De mim,

Qualquer espelho

Partido.

E de meu rosto

A flor sem cor

Estraçalha-se

Por prazer

E sacrifício...

Se soubesse um verso

Um verbo novo

Usá-lo-ia

Em epitáfio

Para selar

A presença

Da ausência

De quem o corpo

Deixou

De possuir,

E passaria feliz

A passear

Em campos tristes

De homens frios

E desumanos,

Onde jaz

As vontades suprimidas

Frases não ditas

Paixões proibidas

E os abortos

Dos anjos

Que

São-me irmãos,

Por serem abortos

Ou simples órfãos.