AMARGA LEMBANÇA

Ela esticou-se toda por sobre a amurada...

Tentando observar algo no além...

Mas nada...

No horizonte via-se apenas o mar...

Eterno, assustador.

Seus dentes rangiam, após alguns favores

Permitiram que saísse dos porões tétricos, malditos...

Onde o restante dos negros choravam, praguejavam e morriam...

E ela ficou pensativa, dorso nu, beleza negra, filha de realeza tribal...

Ali,já não era nada, seus olhos perdidos deixavam escapar lágrimas...

Amargas, silenciosas...

Que destino lhe fora reservado...

Que fez ela para receber isso de seus Deuses ?...

Seus olhos baixaram,olhou as espumas provocadas pelo rasgar do navio negreiro sobre o Atlântico...

Uma voz sombria gritou atrás dela: “Volta negra”... outra voz, doce, sussurrou em seu coração: “Vá”...

E ela curvou-se e deixou seu corpo cair,

estatelando-se contra a lamina d’água...

Ninguém piscou...

Era apenas mais uma...

sergio virginio
Enviado por sergio virginio em 04/12/2006
Código do texto: T309079
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