ESPELHO, ESPELHO MEU...

À noite

Enquanto escovo os dentes

Um homem amargurado

Me fita através do espelho.

Em seus olhos turvos

Como se tivesse chorado

Vejo tarjas em vermelho.

De sua boca rasgada

Quase num esgar

Pende a última ironia.

Onde foram parar

Aqueles tantos e bons propósitos

Do início do dia?

Sobre quantos ele fez desabar

Sua propotência

Sua ira, sua antipatia?

Do quarto contíguo

Vem o soluço sentido

Do menino mais velho.

Nem gesto brusco

Pego a toalha de rosto

E apago aquela miragem

Resmungando a esmo:

- Perdão, meu filho

Se levantei a voz e a mão contra você.

Somente agora

Talvez tarde demais

Percebo que brigava comigo mesmo.

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 01/08/2011
Reeditado em 10/01/2012
Código do texto: T3132629