DESERTO

Andava pelas esquinas e becos

Meu seio era a porta entre ele e a rua

Vi os rostos arrebatados com a dor e com a fome

Apenas lembro de seus olhos como um eco

Não sei como escapei de seus braços

Não sei como escapei de seu peito

Andava pelos bares e praças

Meu seio era a porta entre ele e a mágoa

Senti o mundo solitário de traças

Apenas lembro de meu braços contraírem meu peito

Não sei como escapei de seus beijos

Não sei como escapei de sua alma

Andava pelo mundo solitário

Meu seio era a porta, a porta vazia de um sonho sedento

Procuro o cálido sorriso transformado em lágrima

Apenas a andança dos peregrinos satisfaz

Não sei como ser de novo feliz

Andava pelo vazio dos mudos, dos surdos

Andava pelo fim do Policarpo

Andava pelos trejeitos tortos da língua

Andava e somente andava

Num desejo louco de sumir pelo mundo

Num desejo louco de virar pó

Da saudade do que se teve e no anseio do que se busca

Calejada minha mente peregrina

Pelos vales rodeados de ondas

Pelas neblinas calmas das pradarias

No som da música medíocre

Andei pelos dez mandamentos

Procurando entre a Bíblia a felicidade

A lei que explica o sentimento

Que explica a infelicidade que pertenço

Onde foi parar meu deus, onde?

Onde o Senhor botou a fé? A paciência? A virtude?

Andei por tudo! Perguntei a todos

Convivi com tolos

E as almas senhor? E as almas?

Só vejo escuridão

Permaneço atento

Mas meu coração lateja

Quero amor

Quero luz

Julex
Enviado por Julex em 09/12/2006
Código do texto: T313666