ABISMO
Águas profundas
Turbidez quase negrume
Algas e ninfas se abraçam
Num balé sem roteiro
Quanto mais fundo
Menos o sol ilumina tua pele
Descendo num tubo turbilhão
De bolhas, raízes e lodo
Tu flutuas ali calma feito gaivota
Como a voar longe do ninho
Sustentada pela aragem fresca
Há um sorriso quase nada
Dentes cerrados cintilam
Ao menor raio de luz que lampeja
Olhos fixos num ponto
Tentando lembranças recentes
Os cabelos como grinalda
Dançam ao sabor das correntes
Ornamentados por cipós e pequenas sementes
Mãos espalmadas feito a Virgem
Como a rogar um socorro impossível
Finalmente chega ao fundo
E deita-se num cardume de prata.