Quisera eu
Eu queria ser de ferro
P'ra uma lágrima não escapar,
P'ra uma ferida não sangrar.
Quisera ser de um formato só,
Com mudança de peso não me preocupar,
Até menos produtos usar.
Queria ser bruta como a pedra,
Continuaria a ser lapidada,
Até desaparecer, assim
Sem sofrimento, sem dor,
Apenas evanescer.
Eu queria ser de metal,
Quando enferrujada, ter peça trocada.
Aquela peça traíra e desleal.
Quisera ser forte,
Ao olhos de alguns teria alma,
Mas combateria contra mim mesma, somente.
Contra a lata velha e inútil que mais tarde
Descobriria que sempre fui.
Eu queria ser algo apenas
Que nem mesmo houvesse mais "eus",
Nem escritos, Nem poesias,
Sequer fora um dia nostalgia, ou peça
De interesse para algo realmente de valor,
De encanto e simbologia.
E por fim, uma existência não registrada,
Uma poeira, que alguém cansada e extressada
Limparia para que a brisa quente a levasse embora
Para longe, para lugar algum.