AMARRAS...

Chego enfim a meu isolamento voluntário

E ao cair sonolenta a vacilante noite

Sou pelas hostes do imponderável conscrito

Desço da canoa em uma ilhota do velho Cocorobó

Amaro-a e penetro ainda mais a caatinga inconcussa

Tentando soltar-me de minhas próprias amarras sentimentais

E não há como descrever a devota emoção desse opúsculo

Ascendo o fogo e perco-me fitando as labaredas

E isso ascende em mim toda uma retrospectiva reflexiva

Sinto os proscritos da seca e da miséria secular a observarem-me

Talvez sejamos luzes filtradas pelos mesmos prismas

Pelos ermos de nossas distâncias e desencontros semeadas

E sinto como se elas se reconhecessem e se aproximassem

E a noite observando-me com os olhos suspicazes

O que me faz agitar-me ante tua taciturnidade

Pois conheço o poder que exerce em mim tua voz

Sobre todo meu espírito e também sobre minha volúpia

Sinto-me então como uma alma de ti isolada por degredo

E contorço-me ante o poder do isolamento dilacerante

Que traz em teu bojo o que a solidão tem de mais ominosa

Então invoco minha intrínseca coragem conculcada

E descubro que nessa incomportável solidão

Tento fugir do medo de perder-te sutilmente

E sinto que em ti sumo em exalação impalpável

Como também o gigantismo desse amor infrene

E a solidão da caatinga já não me é então brutal

Não tanto quanto a dor da incerteza em nós

Tenho a reflexão da vastidão onde não há opróbrio

E esse absorvente e inaudito medo de perder-te

Transforma toda minha escrita em panegírico

A exaltar a extraordinária mulher em ti

E no infindo estrelar de minha noite sertaneja

Vem-me tua incandescente e épica imagem

Onde em meio a minha árida paisagem

Descubro a impossibilidade de não amar-te

E em meus lábios repletos de amor paixão e desejos

Uma insaciável vontade de estar em teus braços

Bebendo da seiva do seio de tuas familiares paragens...

Leilson Leão
Enviado por Leilson Leão em 07/12/2011
Código do texto: T3376218
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