TÚNEIS AURICULARES

Eis-me, aqui,

Como fótons desvanecidos

No carbono dos túneis auriculares

Eis-me, aqui,

Vendo as manchetes dos jornais

Que um dia aprendi

A ler como flagrantes que jamais

Pensarão em si...

Eis-me, aqui,

Entre a dor e o riso fugidio

Neste tempo que corre como rio

Da violência de dias vãos

Entre altos e baixos da injustiça

Neste mundo que só enfeitiça

O ideal sublime, impregnado em mãos,

Cujo sonho redime nossa carne efêmera...

Sim, antes pensávamos em revolução

Querendo justiça social além de tudo

Pois tudo fere este incauto coração

Pois nem todo grito é mudo

Mas as pessoas que vêm, que vão

Sabem o perímetro exato da minha insignificância

E, assim, nessa inconstância, ficou meu riso, então...

Ah, tudo fere este coração incauto

Desde os homens-bomba até as mulheres tristes

Desde a fome sem armas até a arma do assalto

Desde o nome em que a corrupção persiste

Politicamente, tudo aflige esse coração incauto...

Pobre coração on-line,

De aurículas sóbrias em tempos bêbados

E ventrículos sensíveis a toda imensidão

De guerras nestas terras plenas

Como efeito estufa de mais um vulcão,

Irradiando estupidez em doses nada amenas

Em meio às intempéries, pobre coração !

E tu bem podes rir destes medíocres versos

Podes zombar, aqui, pois já não me importa,

Se o coração abre a porta aos mares mais dispersos,

Eis a liberdade lídima que me conforta !