Monólogo
Em minhas entranhas lutam felinos negros
que, vorazes, mostram os dentes tintos de sangue.
Eles lutam.
Lutam e se agarram
dia e noite
tentando vencer o que já é rendido.
Por que lutam se nada mais há?
Por que disputam o espólio da vergonha?
Por que buscam desnudar a alma e a vestir de luto?
Não sei.
Mas sei que são felinos.
E lutam.
O combate, quem nega?
A disputa, quem apanha?
A culpa, quem leva?
O prazer, quem ganha?
E enquanto os negros felinos
se unham,
arranham com ódio minha garganta e minhas mãos,
espero que morram logo.
Espero que morram logo.
Espero que morram logo
e eu encontre, enfim, a solidão.