Já não sofro mais

deixa-me estar quieta

cheguei no limite

onde a estrada da urgência

e o horizonte dos presságios

se encontram

na esquina em que o guardião do vento

intercepta a dor

o inverno já apodreceu as folhas caídas

as guerras estão do outro lado do mundo

tudo o que nos fere está entorpecido

como a noite no deserto

tento escrever um poema de amor

mas as palavras escorrem silenciosas

e pousam como nódoas sobre o papel

deixa-me estar quieta

o coração enrola-se em posição fetal

serena a respiração

engole o grito

e desenha lágrimas na terra

os buracos palpáveis na alma

por onde o hálito do futuro bafeja

me remetem a um tempo de lucidez

- não é tristeza, mas regresso

essa sombra que atravessa o dia

somos apenas nós

tentando viver

a cumplicidade do abandono

Helenice Priedols