AUTO-RETRATO SEM MEIAS PALAVRAS
Juliana Valis



Sou mulher de palavras inteiras

E meu único vício é me rimar com o vento

Pois em cada estação da alma

Há infinitos réquiens de sentimento

Indelevelmente intenso em tudo o que existe

Em tudo o que se esvai, como voa o tempo

Não sei o porquê, mas minha sombra é triste

Não sei dizer por que meu riso é lento...



Sou apenas vento de melancolia

Uma nostalgia, quiçá, distante

De nada que já fui neste breve dia

De tudo que serei nesta marcha adiante

E como espelho côncavo de ilusão fugaz

Tenho a face virtualmente plana

Sou apenas verso e nada mais

Buscando paz nesta Terra insana...



Sim, sou feiamente estranha

E belamente feia

Como tempestade que não se entranha

Em cada tom de amor, em sua teia,

Pois meu fraco coração nunca vê igual

Cada chama de dor que incendeia

E talvez, de fato, eu escreva mal..



Mas não sou mulher de meias palavras

Apenas faço da letra um mar

E foi assim que acordei perdida

Na escuridão de meu próprio olhar.