Mergulho em instante nebuloso
encontrando o passado no caldo grosso
de um lôbrego rio impiedoso...
Alucinando na falta de ar
a vida mostra-se dançarina
fustiga os anseios do amar...
Mas esta mesma vida é uma artista
sensual, tira a roupa em show burlesco
(Prostituta sem coração)
Deixa o palco sem saciar o meu desejo!
Adentro a gruta tenebrosa da paixão
encontro o passado aterrador e vazio
tal como folha branca em dia que falta inspiração!
Alucinando na falta de ar
a vida mostra-se de si mesma assassina
impiedosa e medonha...Aterradora menina!
Olhar inocente e choroso
mas guarda na mão que esconde atrás das costas
uma faca de fio afiado e luminoso
Penetro nas noites frias e escabrosas
(lamina cravada em meu peito)
caminhando oculto em brumas venenosas
sem oxigênio...Sem conseguir respirar direito...
Resta apenas na falta do ar...Alucinar!
Por que razão ainda é espanto minha sombria tristeza?
Mesmo em campos floridos de luz e alegria
é lúgubre e conturbada a minha natureza!
A vida chora tal como dama lutosa
mas é um choro seco de caretas medonhas
Pois a vida é tão somente uma vadia mentirosa...
Dançarina em show burlesco
arrancando a roupa sem receio
maquiavélica estatua de sangue e sal
seu palco um tumulo...
Sua plateia...Uma turba calada no sobrenatural!
Mergulho neste circo macabro...
Sufoquei a dançarina antes de ser estrangulado
Coveiro do passado sepulcral...
Aceite minha homenagem à vida
Uma pá enferrujada e cheia de cal!