Os últimos sonhos desse inverno
A sombra gélida destes montes
Cobre minha tez,
E alimenta os sincelos
Que arremetem minhas vistas.
O sol dista cada vez mais desse lugar,
O vento frio congela meus ossos,
Limita todos os movimentos,
Confunde todos os pensamentos.
Dessa janela enxergo todas as lápides negras
Ao pé dessa montanha,
Jazem aqui os corpos esquecidos
De heróis de outrora.
Esquecidas ao acaso,
Gestadas em têmporas atemporais,
Sepultadas indigentes decrépitas
Carcomidas pela ação do tempo.
E esse cancro disléxico tenta aos poucos
Corroer o que resta de luz,
Dentro dessa peça que sob a sombra fez morada,
Guardado do calor fraterno das planícies.
Tão difícil entender esses olhares obscuros,
Entre tantas tempestades dejetos repousam as margens
Desses olhares cheios de nada,
Distantes e tão perto.
O pó dessas vestes penduradas nos galhos secos
Balançam ao vento
Murmurando no mormaço,
Perdidos no espaço.
Os espasmos de vida ainda insistem em lutar contra
A força que tenta sugar a seiva vital
Que alimenta essas veias
Lutando contra o final.
Nas preces silentes o calor
Insiste em tentar espantar o frio
Que recobre todo o lugar,
Numa única esperança aquele que não sabe orar.